sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cheiro e Sabor de Infância...

INFANCIA

De: Eloiza Maria Nogueira.

Pode passar os anos mas o cheiro e o sabor da infância nunca passam.
-Quem já sentiu o cheiro e já lembrou do sabor da Infância?
Quando começo a recordar a minha infância, que já se foi há alguns anos, lembro-me de minha mãe dizendo: saboreie bem o que você come, porque quando você crescer o sabor não será o mesmo.
Eu ficava a imaginar o que poderia mudar no sabor de uma fruta ou algum outro alimento, já que o sabor dos mesmos não alterariam.
Como poderia a maçã tão linda, e cheirosa! perder aquela aroma, só porque eu cresci; o guaraná perder o saber de festa... Ah... a manguita (ou manga ubá com também é chamada) que fruta mais saborosa, dava vontade de consumir o caroço. Tinha fartura da fruta mas aquela que estava chupando parecia que seria a última.
Mês de outubro e novembro chegava as jaboticabas, pretinhas..., casca fina, doce que nem mel. Ah... que delícia...
Com o passar dos anos, cresci e percebi que minha mãe tinha razão, a voz da experiência falou com sabedoria.
A maçã lembrava viagem. Como morava no interior ter carro naquela época era coisa de rico: viajar só de trem. Ônibus só quando a estrada que era de chão estava transitável. O Jornal só chegava com as notícias 3 ou 4 dias após, e olha que isto ainda era um privilégio para nossa Vila, uma vez o trem que trazia o jornal passava por lá vinha da Capital Federal (Rio de Janeiro).
Ah!... voltando no cheiro de viagem relacionado a maçã, era hábito naquela época os pais trazer maçã de presente para os filhos quando viajavam, devido a importação da fruta da Argentina, elas só eram encontradas nas cidades vizinhas onde haviam um comércio melhor. Era uma delícia o cheiro da bolsa que vinha impregnado o aroma da maçã. O cheiro era mais intenso que o sabor.
Quando meu pai chegava de viagem eu e meus irmãos íamos correndo para ver o que ele havia trazido. A maçã não precisava procurar muito, o seu cheiro a denunciava.
O Guaraná tinha sabor das festas do final de ano... Natal e Ano Novo, que naquela época ainda não era reveion. O refrigerante sós era consumido nestas épocas, fora destas datas raramente era servido. Não se consumia muito refrigerante como hoje.
Tempo bom...
Não havia luz da Cemig. Era uma luz fraquinha... produzida por um gerador, que não podia fazer muita coisa devido a escasses de água usada para gerar energia vinda de um minúsculo riacho chamado de "Fama". Com a iluminação urbana fraca contentávamos em apreciar o céu que era o mais lindo do mundo, de um azul escuro profundo salpicado de estrelas. Sabíamos todas as fazes da lua, mas gostávamos mesmo da lua cheia, a cidade ficava mais iluminada com aquele enorme farol emanando luz, aí podíamos brincar até mais tarde. Brincar de roda, e olha que não era só as crianças que brincavam, as moças e rapazes também; passar o anel, etc.
Já na minguante contentávamos em apreciar os vagalumes (pirilampos), piscando... realçava bem na noite escura a sua luz verde que enfeitava a noite. Quando encontrávamos algum que não aguentava mais voar, nós as crianças gostávamos de passar a parte florescente dele na roupa para ficar brilhando. O cheiro não era agradável, mas tudo era festa.
Ah.. tempo bom, olhando com os olhos de hoje, parecia que tudo andava em câmera lenta. O dia e a noite eram longos. A semana, o mês tudo era longo, não só porque eu não tinha noção do tempo, mas até as notícias demoravam a chegar. Não havia compromisso com horário. Não tinha com que ocupar o tempo, como televisão, cinema, etc. A diversão era ver o trem passar, este sim tinha horário quando não atrasava, ouvir novela no rádio quando pegava sinal. O tempo era preenchido pelos adultos da época com longas conversas na beirada do fogão a lenha, ali se discutia política, contava "causos" histórias horripilantes.
Tudo isto ficou na minha memória, todas estas coisas boas ficou para mim como cheiro e sabor de infância.

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